Quando abri meus olhos não consegui de imediato identificar o local em que me encontrava, estava deitado sobre um chão gelado, encharcado em um piso de pedra, onde algumas eram pontudas e bem desconfortáveis.
Vi-me envolto a um manto vermelho que pinicava que só a moléstia, e para terminar minha atual e confortante situação, minha cabeça repousava em um toco partido de alguma árvore podre e fedorenta.
Fiquei quieto por alguns instantes, tanto pela minha cabeça que latejava como para meus olhos se acostumarem com a penumbra do ambiente. Era Noite, fazia um frio lascado e garoava muito. Era uma chuva fina caindo incessantemente, mais parecendo agulhadas em meu peito.
Com o tempo eu fui reparando melhor em minha volta e vi que existiam algumas paredes bem altas de um verde claro, logo deduzi que eu deveria estar em algum prédio ou galpão, provavelmente adormeci bêbado, porém não compreendi a falta de teto do local.
Passado algum tempo, tentei me levantar, mas uma dor insuportável nas costas, seguida de pontadas doloridas me fez aquietar o facho e me manter estático em meu canto por alguns momentos e, somente quando observei melhor em minha volta foi que percebi que não estava sozinho, pelo contrário, centenas de pessoas, para não dizer milhares se encontravam na mesma situação. Algumas delas se acomodavam em camas, porém uns sem número de pessoas se encontravam no chão e como eu, cobertos por uma manta, completamente abandonados no chão alagado.
Muitos lamentos e gemidos se faziam ouvir, seguidos esporadicamente de alguns palavrões e xingamentos. A todo instante ouvia-se blasfêmias serem pronunciadas.
Mais uma tentativa de me erguer, mais dor, imaginei me encontrar em algum hospital ou algo do gênero, provavelmente estava com alguma costela quebrada. Eitá! Que a cachaça deve ter me derrubado mesmo, pensei, pois não me lembrava de nada e ao tentar me acomodar melhor, o sofrimento que já era grande se fez pior e um urro de dor soltado por mim acabou por chamar a atenção de um homem calvo que veio em minha direção.
O lazarento vinha sorrindo. Ah se ele soubesse de minha dor, se estivesse sentido um bocadinho dela ao menos, não traria esse sorrisinho mulambento na cara. Com sua voz rouca me pediu paciência, que logo me recuperaria e minha dor viria a se amenizar.
Ele deveria estar beirando os cinquenta anos, calculei sozinho e não me parecia em nada um médico, o homem se vestia com uma túnica cinza muito comprida e como todos ali, também se encontrava encharcado. Pediu-me licença e se retirou para voltar alguns instantes depois acompanhado de uma mulher. Se bem que aquilo, talvez mulher nem seja, devia ter mais de dois metros, branca como o leite, feia como uma mula e fedia como uma cabra, valei-me meu Santo Antônio, abençoado seja, que mulher grande como essa, nunca vi. (...)
domingo, 29 de março de 2009
Primeiro trecho do livro, a partir do titulo.
(...) - É bem verdade que estou morto, e cai nesta desgraçada Terra,
tamanha desgraça a minha que me obriga a viver nessa feiúra,
são feios os montes, os vales, os rios, e também são as serras.
Mas tenho que me acostumar com essa vida, pois esta é minha sina,
viver no Inferno esquecido, sozinho, sem ao menos um colo de menina..
Mais feiúra não há de me abalar não, pois sei que isto existe em toda parte,
existe uma beleza profunda na morte, e existe uma extrema feiúra na arte.
Sertanejo eu sou, e do meu sertão nunca hei de desistir,
posso passar fome, frio, lamento e solidão, mas de meu sertão, jamais hei de sair.
Podem me bater, virarem as costas para mim ou até me deixarem sem comer,
jamais mudarei minha opinião e somente se me tirarem meu sertão,é que irei sofrer”.(...)
tamanha desgraça a minha que me obriga a viver nessa feiúra,
são feios os montes, os vales, os rios, e também são as serras.
Mas tenho que me acostumar com essa vida, pois esta é minha sina,
viver no Inferno esquecido, sozinho, sem ao menos um colo de menina..
Mais feiúra não há de me abalar não, pois sei que isto existe em toda parte,
existe uma beleza profunda na morte, e existe uma extrema feiúra na arte.
Sertanejo eu sou, e do meu sertão nunca hei de desistir,
posso passar fome, frio, lamento e solidão, mas de meu sertão, jamais hei de sair.
Podem me bater, virarem as costas para mim ou até me deixarem sem comer,
jamais mudarei minha opinião e somente se me tirarem meu sertão,é que irei sofrer”.(...)
Segundo Trecho do Livro de Zé Pelintra
(...) - Minha hora chegou meu filho, espero que se torne um grande homem e que cuide sempre de seu irmão. Faça dele um grande homem como você é. Minha hora chegou meu filho, mas não to com medo não, só me preocupo mesmo é com vocês dois. - Minha linda mãe apenas balançou sua cabeça, demonstrando contrariedade
- Pare! Não fale assim, por favor! A senhora é minha rainha, não há de me deixar tão cedo. – Novamente o choro venceu a luta interna contra mim.
- Minha santa mãezinha já está aqui ao meu lado filho meu! O meu fim se aproxima e infelizmente nada poderá ser feito contra isso, muito grande foi meu sofrimento, mas saiba meu amor, que jamais deixarei de olhar por ti ou pelo seu irmão.
- Não me deixe não mãezinha, fica comigo, por favor? Foi tudo culpa minha, você sofreu tudo isso por minha culpa, não vá não. Fique ao meu lado, ao nosso lado. Félix precisará de você aqui, mulher! Nem pense em partir, não nos abandone!
Ela apenas sorriu, mas uma lágrima escorrendo de seus olhos, acabou por lhe trair.
- Jamais abandonarei vocês meu anjo, apenas estarei em um outro lugar. Não mais poderei esticar minhas mãos e fazê-lo sentir meus carinhos, mas sempre que sentir necessidade de estar perto de mim meu filho, colha um cravo, pegue e converse com essa flor, assim lhe prometo escutar. Em cada cravo que você passar, sorria, pois meu espírito estará passeando entre eles, sempre acompanhando seus passos meu amor. Prometo-lhe meu filho, sempre estarei por perto quando precisar, tanto de ti, como de seu irmão. Estarei entre flores meu amor, lembre-se disso. Não será necessário preocupação alguma.
Meu mundo se acabava junto com minha mãe. Eu sem ela nada mais seria. Sem forças para argumentar algo, voltei ao choro, doído e desesperador. Não podia perder minha mãe, ainda mais sendo eu o culpado e agressor. Jamais me perdoaria. (...)
- Pare! Não fale assim, por favor! A senhora é minha rainha, não há de me deixar tão cedo. – Novamente o choro venceu a luta interna contra mim.
- Minha santa mãezinha já está aqui ao meu lado filho meu! O meu fim se aproxima e infelizmente nada poderá ser feito contra isso, muito grande foi meu sofrimento, mas saiba meu amor, que jamais deixarei de olhar por ti ou pelo seu irmão.
- Não me deixe não mãezinha, fica comigo, por favor? Foi tudo culpa minha, você sofreu tudo isso por minha culpa, não vá não. Fique ao meu lado, ao nosso lado. Félix precisará de você aqui, mulher! Nem pense em partir, não nos abandone!
Ela apenas sorriu, mas uma lágrima escorrendo de seus olhos, acabou por lhe trair.
- Jamais abandonarei vocês meu anjo, apenas estarei em um outro lugar. Não mais poderei esticar minhas mãos e fazê-lo sentir meus carinhos, mas sempre que sentir necessidade de estar perto de mim meu filho, colha um cravo, pegue e converse com essa flor, assim lhe prometo escutar. Em cada cravo que você passar, sorria, pois meu espírito estará passeando entre eles, sempre acompanhando seus passos meu amor. Prometo-lhe meu filho, sempre estarei por perto quando precisar, tanto de ti, como de seu irmão. Estarei entre flores meu amor, lembre-se disso. Não será necessário preocupação alguma.
Meu mundo se acabava junto com minha mãe. Eu sem ela nada mais seria. Sem forças para argumentar algo, voltei ao choro, doído e desesperador. Não podia perder minha mãe, ainda mais sendo eu o culpado e agressor. Jamais me perdoaria. (...)
Terceiro Trecho do Livro de Zé Pelintra
(...) Veio a terceira gravidez, foram oito meses de preocupações e tormentos, Emilia chorava e se cuidava em demasia, tudo para dar certo.
Enfim nasceu nosso terceiro filho, mas nossa casa já não era a mesma, deixou de ser um lar alegre. Por causa da perda dos dois primeiros. Emilia chorava a toda hora, nosso terceiro e único filho vivo, Mauro era mulatinho como os pais e sempre fazia minha esposa chorar. Se ia dar banho na criança, lembrava de Olavo e Maria eduarda, se ia dar de mamar, lembrava dos outros filhos e assim vivíamos em um clima meio apagado em um astral acinzentado. Eu não fiz muito diferente, muito menos era melhor que ela. Passei a beber em demasia, passei a ser um homem desinteressado e larguei de vez o pouco de fé que me restava, após o episódio de minha mãe, passei a ter pouca crença em tudo aquilo que aprendi, tamanha era minha descrença que mesmo com meu filho Olavo doente nada fiz por não ter mais minha fé, por estar abalado, talvez, poderia ter feito algo por ele com algumas ervas, raízes e rezas, mas não tinha forças para invocar santo nem Orixá eu estava apagado, Deus? Nem nele eu acreditava mais, eu era jovem demais para sofrer e perder tantos entes queridos. Se existia um Deus eu o amaldiçoava por tudo que me fez passar. A única coisa que me dava força e que eu acreditava era no amor de minha mulher. (...)
Enfim nasceu nosso terceiro filho, mas nossa casa já não era a mesma, deixou de ser um lar alegre. Por causa da perda dos dois primeiros. Emilia chorava a toda hora, nosso terceiro e único filho vivo, Mauro era mulatinho como os pais e sempre fazia minha esposa chorar. Se ia dar banho na criança, lembrava de Olavo e Maria eduarda, se ia dar de mamar, lembrava dos outros filhos e assim vivíamos em um clima meio apagado em um astral acinzentado. Eu não fiz muito diferente, muito menos era melhor que ela. Passei a beber em demasia, passei a ser um homem desinteressado e larguei de vez o pouco de fé que me restava, após o episódio de minha mãe, passei a ter pouca crença em tudo aquilo que aprendi, tamanha era minha descrença que mesmo com meu filho Olavo doente nada fiz por não ter mais minha fé, por estar abalado, talvez, poderia ter feito algo por ele com algumas ervas, raízes e rezas, mas não tinha forças para invocar santo nem Orixá eu estava apagado, Deus? Nem nele eu acreditava mais, eu era jovem demais para sofrer e perder tantos entes queridos. Se existia um Deus eu o amaldiçoava por tudo que me fez passar. A única coisa que me dava força e que eu acreditava era no amor de minha mulher. (...)
Quarto trecho do Livro de Zé Pelintra.
(...) e ela falou:
Numa dessas andanças de Emilia para lavar roupa e ganhar seu sustento ela acabou fazendo uma coisa que não devia, ela não quis me dizer o que fez e com quem fez, mas o acontecido é de que ela acabou engravidando de outro homem e não sabia como contar para você. Por diversas vezes a encorajei a conversar contigo ou se deitar com o senhor o mais rápido possível e depois acusar um parto prematuro. O maior problema dela seria encorajar o médico a manter a sua mentira, mas cá entre nós, pra quem já foi uma puta e engravidou fora do casamento, bem que ela poderia trepar com o doutor ou engolir a cobra dele para que ele fosse seu parceiro de mentira, coisa que ela não quis fazer, mas a verdade aos poucos ia aparecendo, ela engordava cada vez mais, os enjôos vinham cada vez mais constantes e logo o senhor iria perceber tudo. Para Emilia essa sua viagem acabou caindo do céu, pois deu tempo dela arrumar os trapos dela e fugir de você. Veio aqui carregada de jóias e duas crianças a tira colo pedindo com que eu as olhasse até o seu regresso e como pagamento me daria algumas de suas jóias. Disse que iria até a capital e de lá pegaria um navio até algum lugar bem distante e lá teria seu filho e viveria sozinha junto a ele. Estranhei aquela atitude covarde dela e até ralei com Emilia sobre o fato de estar largando seus dois garotos, mas a menina estava decidida que só e me entregou alguns brincos a mais e me pediu em nome de nossa amizade. Fez-me jurar que jamais contaria a verdade para o senhor e que seria eternamente grata se eu cuidasse dos meninos. Por amizade a ela e por dó dos bacurizinhos acabei aceitando, mas você é pai você sabe que crianças dão gastos e por isso aceitei as jóias, mas ela também me enganou, pois quando fui vender, o joalheiro disse que eram falsas aquelas coisas todas, mas por fim acabei conseguindo vender ao tal homem por menos da metade do valor que Emilia tinha me dito que valiam. Por isso estou contando ao senhor, não é exclusivamente por causa das jóias, mas por que Emilia é mentirosa e tirou proveito de nossa boa vontade, Ela se aproveitou de nós e quis ser pilantra, por isso vos digo tudo isso. Para onde ela foi não faço idéia, mas me disse que iria para bem longe, onde o senhor jamais a encontraria. E deste então estamos aqui a tua espera, eu e seus dois filhos.
Nada saia de minha boca. Meus lábios tremiam ameaçando a emitir algum som, mas nada saia. Chorava copiosamente, não conseguia controlar, simplesmente saiam de mim as lágrimas, o peito queimava, minhas mãos e pernas tremiam, senti-me fraquejar e meu mundo desabar, Emilia fugira, meu grande amor fora embora. Mais uma vez perdia alguém que tanto amei. Veio-me na lembrança todas as pessoas que perdi, todas as pessoas que me fizeram chorar de saudade, Ana, pai João, minha mãe, meus filhos e agora minha esposa. Estava perdido, sem rumo, sem eira nem beira, nada. Eu que sonhei a viagem toda como seria agora nossa vida, como mudaria tudo para nós, eu que sonhava com a felicidade que me foi prometida a calma da vida, porém o destino novamente me pregou uma peça e acabou por mudar meus planos. Com muito esforço consegui respirar fundo e aliviar um pouco a pressão que se fazia em meu peito e aos poucos e um pouco trêmulo, consegui enfim falar. (...)
Numa dessas andanças de Emilia para lavar roupa e ganhar seu sustento ela acabou fazendo uma coisa que não devia, ela não quis me dizer o que fez e com quem fez, mas o acontecido é de que ela acabou engravidando de outro homem e não sabia como contar para você. Por diversas vezes a encorajei a conversar contigo ou se deitar com o senhor o mais rápido possível e depois acusar um parto prematuro. O maior problema dela seria encorajar o médico a manter a sua mentira, mas cá entre nós, pra quem já foi uma puta e engravidou fora do casamento, bem que ela poderia trepar com o doutor ou engolir a cobra dele para que ele fosse seu parceiro de mentira, coisa que ela não quis fazer, mas a verdade aos poucos ia aparecendo, ela engordava cada vez mais, os enjôos vinham cada vez mais constantes e logo o senhor iria perceber tudo. Para Emilia essa sua viagem acabou caindo do céu, pois deu tempo dela arrumar os trapos dela e fugir de você. Veio aqui carregada de jóias e duas crianças a tira colo pedindo com que eu as olhasse até o seu regresso e como pagamento me daria algumas de suas jóias. Disse que iria até a capital e de lá pegaria um navio até algum lugar bem distante e lá teria seu filho e viveria sozinha junto a ele. Estranhei aquela atitude covarde dela e até ralei com Emilia sobre o fato de estar largando seus dois garotos, mas a menina estava decidida que só e me entregou alguns brincos a mais e me pediu em nome de nossa amizade. Fez-me jurar que jamais contaria a verdade para o senhor e que seria eternamente grata se eu cuidasse dos meninos. Por amizade a ela e por dó dos bacurizinhos acabei aceitando, mas você é pai você sabe que crianças dão gastos e por isso aceitei as jóias, mas ela também me enganou, pois quando fui vender, o joalheiro disse que eram falsas aquelas coisas todas, mas por fim acabei conseguindo vender ao tal homem por menos da metade do valor que Emilia tinha me dito que valiam. Por isso estou contando ao senhor, não é exclusivamente por causa das jóias, mas por que Emilia é mentirosa e tirou proveito de nossa boa vontade, Ela se aproveitou de nós e quis ser pilantra, por isso vos digo tudo isso. Para onde ela foi não faço idéia, mas me disse que iria para bem longe, onde o senhor jamais a encontraria. E deste então estamos aqui a tua espera, eu e seus dois filhos.
Nada saia de minha boca. Meus lábios tremiam ameaçando a emitir algum som, mas nada saia. Chorava copiosamente, não conseguia controlar, simplesmente saiam de mim as lágrimas, o peito queimava, minhas mãos e pernas tremiam, senti-me fraquejar e meu mundo desabar, Emilia fugira, meu grande amor fora embora. Mais uma vez perdia alguém que tanto amei. Veio-me na lembrança todas as pessoas que perdi, todas as pessoas que me fizeram chorar de saudade, Ana, pai João, minha mãe, meus filhos e agora minha esposa. Estava perdido, sem rumo, sem eira nem beira, nada. Eu que sonhei a viagem toda como seria agora nossa vida, como mudaria tudo para nós, eu que sonhava com a felicidade que me foi prometida a calma da vida, porém o destino novamente me pregou uma peça e acabou por mudar meus planos. Com muito esforço consegui respirar fundo e aliviar um pouco a pressão que se fazia em meu peito e aos poucos e um pouco trêmulo, consegui enfim falar. (...)
Quinto trecho do Livro de Zé Pelintra
(...) Fui conhecendo diversas cidades de Pernambuco nessa minha viagem sem fim. Vivia de bar em bar, mercearia em mercearia e assim ia indo. Arrumei muita confusão com muito cabra valente em certos lugares, em alguns outros tive que fugir de muito homem bravo, por que eu acabei fazendo eles sentirem a tão indesejada dor de corno. E sobre meu sustento, eu ia me virando como dava, em alguns momentos eu pedia comida, outros eu fazia algum tipo de trabalho em troca de algo para comer e vez ou outra eu usava os truques aprendidos com meu mestre Alazor, para tapear alguns malandros apostando em jogos de baralho. Assim ia seguindo meus dias, andando sem rumo certo e trabalhando em troca de alguns centavos e comida. Mas o tempo foi passando e as cachaças que eu tomava já não saciava mais minha sede, mal comia e muito menos me limpava, eu parecia um cachorro de tão fedido que eu vivia. As pessoas começaram a me evitar e somente pude sentir o calor de um abraço carinhoso quando caia debruçado, completamente bêbado na sarjeta, somente a rua me aceitava como eu era. Eu não tinha mais amigos, mulher nenhuma olhava mais para mim, as mercearias me mantinham longe de sua freguesia. Eu perambulava pelas ruas com uma roupa extremamente suja, pois em troca de bebida eu tinha dado tudo que eu tinha, menos um colar muito lindo e valioso de Emilia, ouro puro com algumas pedras de certa forma bem valiosas.
Nessas minhas andanças pelo mundo, fui caminhando sozinho por uma estrada que me parecia sem fim, com o sol a pino, piorava minha desidratação profunda e minha imensa anemia, eu era um ser magro agora, com uma rosto cadavérico e olheiras profundas. Caminhava lembrando de meus erros e de minhas culpas, tentava entender aonde foi que errei com minha esposa, a amaldiçoava mil vezes e me esforçava para esquecê-la, lembrava de minha mãe e sobre todo o sofrimento que a causei, sofria por minhas lembranças, sofria por ter sido fraco e me culpava por ter ficado quieto quando era para defendê-la, medroso é o que fui.
Caminhei por muito tempo, isso eu fiz com toda dor do mundo, caminhei com medo, culpa e anseio. Desejava uma vida melhor, lembrava-me dos tempos de criança, lembrava-me de pai João, chorava, por momentos sem fim, eu derrama lagrimas sofridas, doidas, lagrimas de remorso, e de saudade.
Como ela pode? Como ela teve coragem? Sim, pensamos que tudo seria diferente, pensamos que a vida seria melhor, sofremos a perda de dois filhos, sofremos por perder o pouco luxo que tivemos, mas tínhamos um ao outro, eu estava aqui, estava pronto, sempre que podia, para confortá-la, amá-la, ser o marido, companheiro que ela desejou por toda a sua vida. Deixei de ser o homem que ela queria? Tudo bem, eu a amava o suficiente para permitir que ela fosse embora de minha vida, se fosse isso o necessário para ser feliz, entraríamos em um bom senso sobre as crianças. Deus sempre soube quantas tentações nos corpos de mulheres eu tive que sair. Lindas moças, muitas vezes se jogavam em meus braços, mas eu sempre desvencilhava, por amor, por respeito por ela, minha esposa, Emilia. Sempre a desejei para mim, mas se fosse a distancia que a faria feliz eu a libertaria. O amor só vive sobre liberdade, o que me adiantaria ser ciumento? Orgulho? Sim, sempre fui muito orgulhoso, o suficiente para liberá-la, qual o valor de prender uma mulher que não mais me amava, qual a honra, o orgulho que eu teria sobre isso, não a perderia? A manteria por perto? Não, não, meu orgulho me faria ser sóbrio o suficiente para deixá-la partir, não era essa minha duvida nem a causa de tamanha dor, a questão era outra. O que eu fiz para ser tão desrespeitado? O que é que eu realmente fiz para ser tratado como um cão sarnento, ser humilhado pela pessoa que mais amei e confiei, por que me enganou? Eu perguntava a ela o que estava ocorrendo, cheguei a cogitar o fato de uma gravidez, pedi por amor de Deus para que ela me contasse sobre seus problemas, dei-lhe espaço, dei-lhe tempo, mas não, ela realmente quis me enganar, brincou com meus sentimentos, com meu orgulho, com meu caráter, ela preferiu ser falsa, sínica e mentirosa, mentiu até onde pôde, levou sua astucia e seu segredo longe de mim até seu ultimo suspiro, acabou com minha vida, por um erro banal, ou será que eu fui o errado? Talvez por demonstrar ser alguém diferente do que ela almejou, será que ela fez o que fez, morreu por meus pecados? Não sei, até por que de meus pecados, o maior foi amá-la incondicionalmente(...)
Nessas minhas andanças pelo mundo, fui caminhando sozinho por uma estrada que me parecia sem fim, com o sol a pino, piorava minha desidratação profunda e minha imensa anemia, eu era um ser magro agora, com uma rosto cadavérico e olheiras profundas. Caminhava lembrando de meus erros e de minhas culpas, tentava entender aonde foi que errei com minha esposa, a amaldiçoava mil vezes e me esforçava para esquecê-la, lembrava de minha mãe e sobre todo o sofrimento que a causei, sofria por minhas lembranças, sofria por ter sido fraco e me culpava por ter ficado quieto quando era para defendê-la, medroso é o que fui.
Caminhei por muito tempo, isso eu fiz com toda dor do mundo, caminhei com medo, culpa e anseio. Desejava uma vida melhor, lembrava-me dos tempos de criança, lembrava-me de pai João, chorava, por momentos sem fim, eu derrama lagrimas sofridas, doidas, lagrimas de remorso, e de saudade.
Como ela pode? Como ela teve coragem? Sim, pensamos que tudo seria diferente, pensamos que a vida seria melhor, sofremos a perda de dois filhos, sofremos por perder o pouco luxo que tivemos, mas tínhamos um ao outro, eu estava aqui, estava pronto, sempre que podia, para confortá-la, amá-la, ser o marido, companheiro que ela desejou por toda a sua vida. Deixei de ser o homem que ela queria? Tudo bem, eu a amava o suficiente para permitir que ela fosse embora de minha vida, se fosse isso o necessário para ser feliz, entraríamos em um bom senso sobre as crianças. Deus sempre soube quantas tentações nos corpos de mulheres eu tive que sair. Lindas moças, muitas vezes se jogavam em meus braços, mas eu sempre desvencilhava, por amor, por respeito por ela, minha esposa, Emilia. Sempre a desejei para mim, mas se fosse a distancia que a faria feliz eu a libertaria. O amor só vive sobre liberdade, o que me adiantaria ser ciumento? Orgulho? Sim, sempre fui muito orgulhoso, o suficiente para liberá-la, qual o valor de prender uma mulher que não mais me amava, qual a honra, o orgulho que eu teria sobre isso, não a perderia? A manteria por perto? Não, não, meu orgulho me faria ser sóbrio o suficiente para deixá-la partir, não era essa minha duvida nem a causa de tamanha dor, a questão era outra. O que eu fiz para ser tão desrespeitado? O que é que eu realmente fiz para ser tratado como um cão sarnento, ser humilhado pela pessoa que mais amei e confiei, por que me enganou? Eu perguntava a ela o que estava ocorrendo, cheguei a cogitar o fato de uma gravidez, pedi por amor de Deus para que ela me contasse sobre seus problemas, dei-lhe espaço, dei-lhe tempo, mas não, ela realmente quis me enganar, brincou com meus sentimentos, com meu orgulho, com meu caráter, ela preferiu ser falsa, sínica e mentirosa, mentiu até onde pôde, levou sua astucia e seu segredo longe de mim até seu ultimo suspiro, acabou com minha vida, por um erro banal, ou será que eu fui o errado? Talvez por demonstrar ser alguém diferente do que ela almejou, será que ela fez o que fez, morreu por meus pecados? Não sei, até por que de meus pecados, o maior foi amá-la incondicionalmente(...)
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